Mas agora vou falar sobre o Ramadã, que começou no dia 01 de agosto e terminará no dia 30
deste mês. Já havia passado pelo Ramadã, em 2009 na Síria, mas há uma enorme
diferença, pois aqui é lei!
Bom, pra começar, vou explicar o que é, e como é essa tradição
obrigatória no Islã. O calendário Islâmico é lunar, ou seja, baseado nas fases
da lua e não como a maioria do ocidente que é solar. Por isso, o Ramadã não é celebrado todos os
anos na mesma data, e pode passar por todos os meses do ano, mas sempre com
duração de 29 a 30 dias. Durante
esse período, os muçulmanos fazem jejum do nascer ao por-do-sol. Esse ritual de jejum (suam),
é o quarto dos cinco pilares do Islã, que todo muçulmano deve seguir. É proibido comer, beber ou ter
relações sexuais nesse período. É tempo de renovar a fé, praticar a
caridade e a convivencia familiar com mais intensidade, tempo de reflexão
pessoal, leitura mais assídua do Alcorão e ida
com mais frequência à mesquita.
Para os muçulmanos, foi nesse período que Deus, ou Alá, revelou os primeiros versos do Alcorão. De acordo com o Islamismo, um
comerciante chamado Maomé estava andando em um deserto perto de Meca (Arábia Saudita) e uma voz vinda do céu o
chamou. Foi a voz do anjo Gabriel que falou que Maomé tinha sido escolhido para
receber a palavra de Alá. A partir disso, Maomé começou a falar os versos que seriam
transcritos, formando o Alcorão, o livro sagrado do Islã.
No período do Ramadã, jejuar é obrigatório a todos os muçulmanos que
chegam à puberdade. Como sempre sou curiosa, perguntei para os muçulmanos lá do
trabalho e alguns deles começaram o jejum ainda crianças, com 9, 10 anos de
idade. Disseram que nos primeiros dias não é fácil, mas que se acostumam e que
amam o Ramadã, pois se sentem bem e saudáveis (fisica e espiritualmente) com
essa prática.
A primeira vez em que um jovem é
autorizado pelos pais a fazer o jejum, é algo muito importante que simboliza a
entrada na vida adulta e de acordo com o Alcorão: "...aquele dentre
vós que presenciou a Lua Nova deste mês (Ramadã), deverá jejuar, e aquele que
se encontrar enfermo ou em viagem, jejuará depois o mesmo número de
dias...". (Alcorão, Versículo 185)
Em alguns casos, o jejum pode ser
dispensado, como para doentes, mulheres grávidas ou no período de amamentação, menstruação,
idosos, pessoas que estão viajando... Porém, se o muçulmano não se encaixa em
nenhum desses casos e comer, beber, ou tiver relação sexual durante o período
do jejum, o jejum será anulado e será obrigatório compensar em dobro, ou seja,
fazer o jejum por 60 dias sem parar.
Eles não apenas devem ficar sem
comida, bebida, cigarro e sexo, como também não devem pensar nessas coisas e
precisam estar concentrados em suas orações, devem ficar longe dos maus
pensamentos e más ações, pois o jejum é uma prática de disciplina espiritual e
moral.
Quando falo de jejum de bebida, quero dizer
água, suco, refrigerante, já que teoricamente muçulmano não bebe álcool! Aqui
no Bahrein há um lugar (e acho que apenas 1 lugar), onde podemos comprar todos
os tipos de bebidas alcoólicas, é como um depósito (autorizado) e é claro que
na época do Ramadã o lugar é fechado, pois a venda é proibida. Então, na véspera de começar o jejum dos
muçulmanos, fomos comprar cerveja, e foi impressionante ver a quantidade de
estrangeiros fazendo filas e comprando caixas e caixas de cerveja, wisky,
vodka... Nossa, parecia o fim do mundo, parecia que iriam ficar 1 ano e não 1
mês sem bebida, era indiano, americano, europeu, filipino, todo mundo fazendo
seu estoque para os próximos 30 dias... carrinhos de supermercados cheios de
bebidas, era até dificil andar pela loja. Uma experiência bem interessante ver
esse contraste de culturas e crenças.
Como o Ramadã é um ritual, para aguentarem
mais de 12 horas sem comida e bebida, antes do sol nascer, durante a madrugada,
os muçulmanos fazem uma refeição, chamada su-hoor, para a preparação do jejum
que estará por vir.
E quando o dia termina, com o
por-do-sol, é obrigação do muçulmano quebrar o jejum imediatamente. A refeição
depois do jejum, chama-se iftar, e é o momento para reunir os membros da
família e amigos para quebrar o jejum e celebrar. Para essa refeição
há horários específicos, há um calendário baseado na lua que diz a hora e
minutos exatos para cada dia do mês. Após esta refeição, é comum sair com a família para visitar amigos e
familiares e se reunirem para rezar.
Neste momento os restaurantes voltam
a abrir, já é permitido comer em público, tudo volta a funcionar e o movimento
nas ruas é grande. Na época do Ramadã, a vida é noturna, o trânsito que seria
normal ao meio-dia, passa para meia-noite e vai até 2, 3 da madrugada, quando
os muçulmanos voltam para casa para a refeição antes de recomeçar o jejum, e
assim fazem durante o mês todo.
Logo na primeira semana do Ramadã, um conhecido nosso, cristão e de
nacionalidade Russa, estava fumando no carro e foi parado pela polícia. Demorou
para ele saber o motivo, mas o policial foi claro: "É proibido fumar no Ramadã".
A pena foi apenas um
aviso, pois aqui no Bahrein a polícia e os árabes são mais tolerantes, já que
mais da metade da população é estrangeira, não é como na Árabia Saudita, por exemplo, onde eu nem imagino o que aconteceria!
Alguns indianos não tiveram a mesma sorte, de acordo com um jornal
local, eles estavam em alguma avenida comendo maçã e quando a policia perguntou
o que eles estavam fazendo, eles disseram que não estavam comendo, apenas
bebendo!!! Beber, comer, fumar, tudo é proibido, e lá se foram pra delegacia...
Pagaram uma multa (que ainda quero descobrir o valor) e tudo certo. Com certeza
aprenderam que os muçulmanos levam muito a sério esse período do Ramadã e como
estamos em um país com leis Islâmicas, devemos respeitar. Olha, nem chiclete é
bem vindo, temos que jogar fora antes de sair do carro pra não correr o risco
de ouvir alguma reclamação.
E assim vamos, até o final do mês, com certeza ainda terei muita
história pra contar!!!